Você já teve o sentimento de que alguém lhe foi ingrato alguma vez?
Já sentiu a decepção congelando seus sentimentos e tomando-lhe a intimidade de
maneira intensa, como que afogando-lhe o coração em fel?
Das dores da alma, talvez a ingratidão seja uma das mais profundas,
dando-nos a sensação de ser capaz de dilacerar o coração.
Ora foi o amigo que nos traiu a confiança, não sendo digno da
intimidade que compartilhamos em segredo. Outra feita o vizinho, incapaz de
aquilatar os esforços que fizemos para lhe amenizar as dificuldades e os
problemas.
Outras tantas, surgem no seio familiar as relações de ingratidão,
com filhos tratando aos pais como se esses lhe fossem criados com a obrigação
de os servir. Ou esposos tratando com indiferença a dedicação e o desvelo da
companheira.
Quando a ingratidão nos atormenta a alma é porque o sentimento da
decepção está acompanhando-o, indicando que esperávamos outra atitude do
próximo.
Afinal, só nos decepcionamos quando criamos uma expectativa que não
se cumpriu.
E quando a decepção vinda da ingratidão nos toma de súbito, não é
raro pensarmos que não valeu a pena fazer o bem, agir no bem, agir de maneira
correta e acertada.
Magoados pela decepção, muitos de nós nos atormentamos, fazendo
juras de que nunca mais ajudaremos e alegamos, ainda, que seremos mais felizes
não nos incomodando mais com o próximo.
Fazer o bem nunca pode ser considerado um erro. Jamais alguém que
esteja pensando no bem do próximo, no bem estar alheio, pode estar errado,
desde que agindo desinteressadamente.
Se o outro é incapaz de reconhecer nossos esforços, se lhe faltam
valores morais para entender a bondade alheia, que a sua limitação não seja
fonte de nosso desestímulo.
Só agem assim porque, no egoísmo em que mergulham, ficam impedidos
de perceber a bondade no coração do outro, iludidos na sua limitação de que o
mundo está para lhes servir.
Imaginar que seremos mais felizes não fazendo o bem porque não nos
decepcionaríamos, é iludir-se na felicidade do egoísta, de quem se fecha em si
mesmo, a fim de não correr o risco da decepção.
A Providência Divina permite esses embates, apenas nos faz
experimentar o amargor das decepções, para testar nossa perseverança no bem.
Afinal, o bem deve bastar-se por si mesmo, sendo desnecessário vir acompanhado
pelo reconhecimento, louvores e dádivas.
* * *
No exercício do bem, jamais deixemos que o não reconhecimento do
próximo seja motivo para abandonar os propósitos de fazer o bem.
Ao perceber que os que hoje semeiam ingratidão ainda precisam
percorrer longas estradas na vida, a fim de amadurecer suas relações para com o
próximo, desperta em nós um sentimento de compaixão por eles, que substitui a
decepção, nos dando ânimo e coragem, para continuar no esforço necessário de
crescimento pessoal.
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